Conversa com o Arq. Paulo Cesar Galante sobre soluções acústicas e luminotécnicas do auditório.
Local: CASACOR 2025 • Profissional: Arq. Paulo Cesar Galante • Data: 2025
🎤 Entrevista com Paulo Cesar Galante – Especialista em Acústica
Disciplina: Acústica, Lighting e Design – UniFECAF • Entrevistador: Kleber Vieira de Miranda Júnior
Kleber: Então, pessoal, estou fazendo uma entrevista. Meu nome é Kleber, estou desenvolvendo um trabalho relacionado ao conforto acústico e de iluminação.
Estou aqui na presença do arquiteto Paulo Cesar Galante, mestre em Arquitetura pela Uniceub, certo Paulo?
Paulo: Sim.
Kleber: O Paulo é especialista no tema. Estamos na Casa Cor, e ele preparou aqui um ambiente para a exposição, muito impressionante e que se encaixa perfeitamente na proposta do projeto.
Paulo, preparei algumas perguntas básicas, sobre temas como a concepção e o conceito do projeto. Quais foram as principais inspirações para você desenvolver um design acústico e de iluminação em um auditório?
Paulo: Na verdade, tenho que dar muito crédito à minha parceira Simone Turíbio, arquiteta e especialista em iluminação. A gente brinca que aqui colocamos luzes e acústica para “ter um filho”, porque na mesma superfície em que temos iluminação, também temos acústica. Foi um conceito baseado em uma amostra dela, e a partir disso extrapolamos para chegar a este resultado.
A ideia principal era criar um ambiente sensorial, onde a pessoa pudesse sentir a acústica. Para isso, adotamos algumas estratégias: cores neutras e iluminação baixa, porque quando tiramos um pouco da informação visual, conseguimos aguçar os outros sentidos e intensificar a experiência do espaço.
Outro desafio foi que, na Casa Cor, normalmente há uma disputa de cores e texturas. No caso de um auditório, isso não faria sentido — ninguém aguentaria assistir a uma palestra em um espaço com cinco texturas e sete cores diferentes. Como precisávamos de um ambiente funcional para palestras, shows musicais e exibições de filmes, optamos por uma solução minimalista: quase tudo em preto, com iluminação amarelada de 3000K. Assim, em vez de competir, fomos pelo caminho oposto: reduzimos as informações visuais para valorizar a experiência sensorial.
Além disso, tínhamos um prazo curto: apenas 25 dias até a inauguração. Muitos materiais acústicos demoram até dois meses para entrega, então fomos obrigados a trabalhar com o que havia disponível no mercado e criar soluções estéticas a partir disso. Por exemplo, os painéis com espaçamento entre eles e a cortina que interage com a luz foram soluções que nasceram da necessidade de tempo.
Kleber: Notei que, mesmo com sons externos, o áudio dentro do auditório é muito bem preservado. O som não é alto, mas a acústica é excelente.
Paulo: Isso se deve a dois fatores. Primeiro, não houve tratamento de isolamento acústico — devo agradecer ao edifício, construído em 1979, com muito concreto armado pré-moldado. Isso já confere uma boa barreira contra o som externo. O que fizemos aqui foi o condicionamento acústico interno, ou seja, tratamento para reduzir reverberação e melhorar a qualidade do som.
As paredes densas do prédio já favoreciam bastante, mas complementamos com materiais específicos no interior.
Kleber: E quanto aos materiais utilizados? O espaço já era um auditório?
Paulo: Sim, aqui já havia a estrutura de auditório, com rampa e níveis para o público. Isso facilitou bastante. Fizemos substituições importantes, como o carpete — o antigo estava gasto, remendado e fora da paleta de cores. Colocamos um carpete de alto tráfego, que ajuda um pouco na absorção sonora, mas a função principal foi estética e prática.
O teto foi pintado de preto por questões de tempo e da proposta visual minimalista. O tratamento mais sofisticado está nas paredes: usamos painéis de lã de rocha (landpads) com diferentes espessuras (25 mm e 50 mm), colados diretamente à alvenaria. Essa variação ajuda a absorver diferentes frequências. Na frente desses painéis, há um vão de 12 cm, preenchido por cortinas de linho. Nesse vão, instalamos uma iluminação do tipo ribalta, que projeta a luz sobre os painéis brancos, refletindo no linho e criando o efeito visual do espaço.
Além disso, aproveitamos a alvenaria como solução dupla: estética e técnica. Dentro dela passamos toda a nova instalação elétrica e também a rede de dados e som, separados para evitar interferências. Instalamos ainda um sistema de câmeras com inteligência artificial para monitorar público, tempo de permanência, entre outros recursos.
Kleber: Esses materiais — carpetes, cortinas, painéis — contribuem para a reverberação?
Paulo: Contribuem, mas o grande diferencial está nos painéis de lã de rocha. Eles são responsáveis por mais de 90% da absorção acústica. Materiais de 50 mm, por exemplo, absorvem bem frequências a partir de 300 Hz. Já sons graves (abaixo de 100 Hz), com ondas de até 10 metros, exigem soluções mais complexas de geometria e acústica.
Além disso, projetamos o auditório para funcionar com apoio de equipamentos sonoros. Por exemplo, em vez de apenas duas caixas de som, usamos quatro, para garantir uniformidade da pressão sonora em todo o ambiente. Fizemos cálculos de atraso acústico (delay) para que o som chegue ao ouvinte de forma sincronizada com a fala, criando a impressão de que o som vem da frente, mesmo quando sai de caixas laterais.
Kleber: Em relação às normas técnicas, como a ABNT NBR 15575?
Paulo: Aqui fomos além do que a norma exige. Enquanto a norma prevê tempos de reverberação de cerca de 1,2 a 1,5 segundos em auditórios, aqui ficamos abaixo de 1 segundo. Isso foi proposital, porque queríamos oferecer uma experiência sensorial diferenciada, que realmente impactasse o visitante e mostrasse na prática a importância da acústica no conforto de um ambiente.
Kleber: Sobre a experiência do usuário: como iluminação e acústica se complementam para criar um espaço agradável?
Paulo: Um não funciona sem o outro. Acústica sem iluminação adequada perderia a proposta sensorial, e o contrário também. A escolha da paleta neutra, a iluminação baixa e a simplicidade estética foram fundamentais para que a experiência fosse completa. Aqui, se você tira um desses elementos, o espaço deixa de funcionar como planejado.
Kleber: E sobre manutenção e melhorias futuras?
Paulo: Este espaço foi feito como protótipo para uma exposição, em tempo recorde. Claro que há ajustes a fazer para maior durabilidade e facilidade de manutenção. Estamos estudando formas de transformar essa solução em algo comercialmente viável. Muitos materiais aqui foram cedidos por parceiros e adaptados às pressas, mas funcionaram muito bem.
Kleber: Para finalizar, poderia deixar uma recomendação às pessoas que projetam residências, em termos de acústica?
Paulo: O maior problema que observo em casas de médio e alto padrão nos últimos 15 anos é o pé-direito duplo em salas de estar. Isso gera volumes muito grandes em relação à área do piso, e a acústica acaba sendo negligenciada. Colocar apenas um carpete não resolve. Esses ambientes ficam hostis: com muitas pessoas falando, logo é preciso abrir portas e janelas para conseguir conversar.
Minha recomendação é sempre buscar um profissional especializado em acústica, não apenas um arquiteto. Acústica não é apenas som, é bem-estar. Muitas vezes, a sala — que deveria ser o coração da casa — acaba se tornando o espaço onde a pessoa menos permanece, justamente porque não é confortável.
Kleber: Paulo, muito obrigado por esta oportunidade.
Paulo: Eu que agradeço. Foi um prazer compartilhar essa experiência.